Eis um dos meus jogos mais aguardados do ano. Eu sou um grande sommelier de metroidvanias, e 2025 não está pra brincadeira: Mandragora, Ender Magnolia, o brasileiríssimo Mark of The Deep, e um certo outro jogo pequeno aí chamado Hollow Knight Silksong já marcaram presença nas listinhas de favoritos do ano. Mas o que destaca um jogo entre tantos outros? Tem que ter algo diferente, algo único, não dá pra ser só “mais um” metroidvania. Fico feliz em dizer que Possessor(s) – escrito assim mesmo, com o “s” entre parênteses – tem esse algo único e diferente. Essa qualidade, esse “fator X” que diferencia ele de tantos outros. E essa qualidade é poder chicotear demônios usando um mouse com fio.
Gênero: Metroidvania, Beat-em-up 2D
Lançamento: 11/11/2025
Plataformas: PC, PS5
Tem idioma PT-BR: Sim
Desenvolvido por Heart Machine
Publicado por Devolver Digital
A Cidade de Sanzu… Está em Chamas!
Possessor(s) se passa em uma cidade futurista bizarra distópica com toques de neonpunk que foi tomada por uma grande desgraça: o capitalismo. Uma grande corporação resolveu tentar extrair poder de demônios e, é claro, deu tudo errado. Vários demônios escaparam, uma fenda foi aberta no meio da cidade, e agora cada prédio, beco e praça da antes viva Sanzu City está tomada por destruição.
Partes da cidade estão alagadas, outras partes estão em escombros, e os demônios libertos dos laboratórios, sem ter pra onde fugir, possuíram tudo que encontraram pela frente: vasos de planta, livros, cones de trânsito… Animais… E pessoas. Esses demônios agora habitam os shoppings, bibliotecas, laboratórios e parques da cidade, dando um clima de horror e perigo iminente a cada esquina.

É nesse cenário que encarnamos Luca. Depois de perder as pernas durante toda a treta demoníaca, Luca encontra Rhem, um poderoso demônio que propõe um trato. Luca deixa Rhem possuir seu corpo e promete levar Rhem de volta pra casa, onde quer que isso seja, em troca de pernas novas. Buscando entender o que aconteceu, Luca aceita, e depois de um tempo em coma enquanto Rhem faz seu trabalho de recuperar as pernas de Luca, a aventura começa.
O tom da história é bem deprê, e passa bem a sensação de explorar uma cidade recém destruída. Alguns moradores conseguiram escapar antes que os portões da cidade fossem lacrados, outros morreram, e a maioria que sobrou foi possuído. Os personagens que você encontra durante o jogo ou são humanos que sobrevivem de alguma maneira, ou são demônios, ou são alguma coisa inominável nesse meio termo.

Vou evitar colocar aqui nesse review muitas imagens que entreguem os outros NPCs que você encontra pelo jogo, mas acho que já deu pra perceber pelos desenhos de Luca e Rhem na imagem acima que o visual desse jogo é sensacional. Do design bizarro de inimigos aos ratinhos mutantes vendedores de quinquilharias, dos chefões – mescla de humano e demônio – aos NPCs importantes à história, o visual é provavelmente o ponto mais alto de Possessor(s).
Não que um visual espetacular não fosse esperado, afinal são os mesmos criadores do estonteante Hyper Light Drifter; O jogo tem um esquema de cores e iluminação que destaca muito a ação na tela e consegue entregar muito bem o sentimento de estar explorando uma cidade tomada por satanagens. Os monstros são, em sua maioria, objetos cotidianos tomados por demônios, então durante o jogo Luca enfrenta livros tomados por tentáculos, globos terrestres de escola que criaram olhos e espinhos, brinquedos que se transformaram em pesadelos lovecraftianos. Em geral, repito, o visual é o ponto mais forte do jogo, e um prato cheio pra quem curte vislumbrar esse tipo de coisa.
Pancadaria Inspirada em Jogo de Luta
O combate de Possessor(s) não é algo terciário ou secundário – é a alma demoníaca do jogo. Na superfície, parece um metroidvania relativamente tradicional: mapas labirínticos em 2D, habilidades de movimento como corridas, pulos duplos e hookshots, etc. O design de fases é simples e funcional, e o mapa à disposição do jogador é bem útil, então o jogador nunca se sente perdido. Explorando biomas, encontrando NPCs pra conversar, sidequests pra resolver, portas trancadas pra destrancar, mistérios pra desvendar… Tudo isso é importante e está presente em Possessor(s), mas o verdadeiro foco do game não está na exploração, e sim no combate.
A pancadaria funciona bem parecida com um beat-em-up. Luca começa o jogo praticamente sem nenhum equipamento e habilidade. Esse é um daqueles jogos em que o jogador se sente muito, MUITO fraco no começo. Seu único equipamento inicial: uma adaga bem meia boca. Mas isso logo muda, e o jogo desabrocha em um jardim sangrento e frenético contra demônios ágeis e poderosos – mas não tanto quanto você.

Em cada canto de Senzu City você encontra novas armas, acessórios e habilidades especiais pra equipar, modificar e misturar, montando sua própria build. E é tudo tematizado: as armas são, em sua maioria, objetos comuns que Luca, por necessidade, precisa usar pra esmagar demônios.
Você tem as armas principais, que vão das adagas iniciais até tacos de baseball, cada uma com seus combos únicos, há também a possibilidade de equipar armas secundárias, reservando três lugares para isso – coisas como um celular que solta uma onda de energia elétrica em volta de você, ou um mouse com fio que você usa pra chicotear o oponente – e sim, você leu certo. E em cada uma dessas ainda dá pra equipar diferentes habilidades passivas à sua escolha, tornando sua build ainda mais personalizada.

E agora finalmente posso falar do temperinho que torna Possessor(s) especial. O combate conta com algumas mecânicas inspiradas em jogos de luta. As armas contam com ataques direcionais que podem arremessar os inimigos contra paredes, teto ou chão, e eles rebatem nessas superfícies para que você possa continuar o combo. Luca tem acesso a rápidas esquivas ou habilidades de parry e contra-ataque. Aquela mentalidade de esperar o momento pra reagir ao oponente é muito presente nesse jogo, o que torna todo o gameplay muito gostoso e satisfatório.
É um jogo difícil, mecanicamente exigente, especialmente no começo quando seus recursos e armas são limitados, e olha que leva umas horinhas pra você começar a conseguir itens bons. Não que seja frustrante, porque os checkpoints são frequentes, mas vou dizer que as primeiras 3 ou 4 horinhas de jogo são um tanto complicadas. Quando esse começo passa, porém, é muito gostoso ver sua build e sua habilidade pessoal evoluindo durante as 20+ horas de jogo. A katana, especialmente, foi um game-changer pra mim. É satisfatório demais.
Você Está no Xilindró?
Um último comentário importante: preciso mencionar a localização em português brasileiro!

Está cada vez mais comum termos jogos traduzidos pra PT-BR, mas tradução é uma coisa, e LOCALIZAÇÃO é outra. Possessor(s) entrega muito bem uma linguagem local, e você sente que o texto foi praticamente concebido por alguém que mora no Brasil. É realmente muito bom ver que não só o jogo está no nosso idioma, mas isso é feito de forma bem feita. Um acerto gigante!
Veredito: Recomendado
Em um ano lotado de metroidvanias, Possessor(s) é um dos melhores. Escolhendo focar em entregar um combate satisfatório, responsivo e brutal ao invés de um mundo complicado de explorar, esse jogo é uma experiência que tem, sim, elementos comuns a outros jogos do gênero, mas traz novidades especialmente em seus sistemas de batalha e evolução de personagem. Isso somado a um mundo visualmente impecável, uma história bem escrita e uma localização que precisa ser elogiada torna Possessor(s) uma excelente pedida pra quem tá afim de um jogo de pancadaria 2D difícil, exigente, mas muito legal.
Jogue se você curte: Metroidvanias, beat-em-ups, satanagens, neon