A melhor teoria de fãs é essa de Persona: Lei, Neutralidade e Caos

Se você já acompanha o Galinha Viajante há algum tempo, sabem do que eu vou falar já. Então me permitam deixar esse espaço inicial para quem não conhece o Galinha Viajante (erro feio, erro rude) e não ouve a gente com frequência, tá?

A gente é muito fã de Persona aqui no Galinha Viajante. Dá pra dizer com tranquilidade: é só ver os episódios de Persona 5 Royal, Metaphor e Persona 3 Reload que fizemos. Pô, melhor: quem mais fez uma cobertura DIÁRIA de Persona 3? Yup. A gente. Persona sempre foi algo que eu adorava por conta dos designs simplesmente escalafobéticos dos Personas principais, por conta de todas as mitologias envolvidas e por causa das histórias incríveis que são contadas.

Acontece que a “trilogia” de Personas que deu uma repaginada boa na ideia da série (que começou com o 3 original lá no PS2 e terminou com o 5 Royal agora há pouco) e efetivamente fez ela sair pro mundo dobra muito a aposta nos aspectos que eu já adorava e vai além. Mas a principal diferença, a mais gritante e a minha favorita, fica na parte audiovisual do jogo. Saímos de um “Shin Megami Tensei light” para algo 100% próprio, autoral e influente demais.

E é nessa daí que a INTERWEBS fez uma doidera de achar que a trindade de títulos do Persona 3 ao 5 são uma alusão à trinca de alinhamentos de Shin Megami Tensei. E assim, vou dizer aqui pra vocês: não só faz um sentido absurdo, como muita coisa corrobora pra isso e eu vou morrer defendendo essa teoria que, na moral mesmo, nem é tão absurda assim…

Os alinhamentos de Shin Megami Tensei

Para entendermos essa teoria, temos que entender primeiro os alinhamentos de SMT e o que eles significam em termos de jogo e lore. Assim como no D&D, os alinhamentos indicam a moral e ética do seu personagem. Como esse conceito de moral pra demônios, entidades sobrenaturais e folclóricas pouco importa, sobrou o eixo “ético”. Com aspas mesmo, porque tem mais a ver com a visão de mundo desses seres do que ética.  Melhor que isso: esse “eixo” é a generalização de ideias, práticas e facções defendidas dentro dos jogos.

Basicamente, existem 3: Law (chamaremos de Lei), Neutral (Neutro) e Chaos (Caos). Cada um deles indica a posição que os demônios e heróis (sim, heróiS) do jogo se posicionam ante aos conflitos. Existem 3 outros Eixos (Light, Neutral, Dark), mas estes não nos importam agora.

Lei representa seres que lutam para manter o status quo sob uma ordem unificada, clara e objetiva. Não necessariamente, mas geralmente, centralizada. Nos SMTs, essa figura é quase empre YWHW (Deus Judaico-Cristão, especificamente o do Velho Testamento) e temos mitos, deuses e folclores geralmente voltados para figuras que defendem o status quo ou figuras que lutam contra rebeliões. As hostes celestiais todas são um exemplo claro disso, mas existem outros exemplos: Odin, Vishnu, Thor e Valquírias são alguns. Vale ressaltar que ser alinhado com Lei não te faz benigno, necessariamente.

Ou seja, tamo falando de gente meio autoritária por aqui e que vai manter a ordem sob qualquer custo.


Caos é oposto na régua da Lei. Estamos falando de seres que lutam justamente para destruir o status quo. Liberdade, tanto coletiva quanto individual, uma vida sem amarras e cada um por si. Não é – necessariamente – bagunça e falta de liderança, é um mundo onde ser livre é mais importante que uma série de regras ou de uma sociedade com hierarquia. Geralmente isso desacamba sim para o lado da “sobrevivência do mais poderoso” (oi, SMTIII!). Claro que demônios podem aparecer por aqui, e vão, mas estamos falando principalmente de rebeldia e liberdade. Lúcifer, Lilith…  E nosso Caralhão Verde Bonito favorito também.

O lema seria algo como “Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe”.


Neutral é quem tá no meio do caminho e pouco — ou nada — se importa. É um caminho egoísta de maneira não pejorativa e fundamentalmente contra ambos os lados. É o lado que entende que é preciso ter alguma ordem sim no mundo, mas tirar liberdades é meio complicado. Geralmente vemos aqui entidades que lutam por si próprias e MUITÍSSIMO atreladas à ordem natural das coisas: espíritos da natureza são muito comuns por aqui. Jack Bros. e o fofíssimo Barong são alguns dos exemplos.

É o tipo de bicho que fala “me deixa em paz, porra”.

 

Persona 3, 4 e 5: Lei, Neutralidade e Caos

Massa, aprendemos os alinhamentos de SMT, mas e o que isso tem a ver com os 3 Personas?

A resposta é “tudo”. Então preparem-se…

POIS HAVERÁ SPOILERS AQUI, ATENÇÃO!

mas vou tentar me segurar o máximo possível, prometo!

Vamos começar por Persona 3!

Azul, Manutenção da Ordem e Jesus Cristo duas vezes

Persona 3 tem em seu principal tema discutido a frase Memento Mori, que em latim é algo como “lembre-se da sua mortalidade”. Estamos falando de um jogo que, como tratamos no nosso EXTENSO episódio de P3R fala sobre entender que lutar contra o status quo, contra a ordem imposta e vigente no nosso mundo é idiota. Todos os personagens principais e antagonistas passam por isso, os Social Links lidam com a coisa mais natural, imutável e atual “regente” do mundo naquela história: A Morte.

Os personas iniciais e cada evolução dos personagens são, todos, Mitos, Lendas e Deidades que lidam com a morte de forma hierárquica, mantendo o status quo dela no mundo. Lidam com Justiça, Julgamento, Leis e Ordem. Existem outras pequenas coisinhas que gosto de prestar a atenção também. O mascote aqui é o animal mais leal de todos: um cachorro. Mas não qualquer cachorro. Estamos falando de um cachorro que é conhecido por sua lealdade ABSURDA aos seus tutores, o Shiba Inu. Koromaru também é baseado na História de Hachiko, a história mais triste de todos os tempos™, na qual o doguinho ficou esperando seu tutor – mesmo depois que o tutor tenha morrido – lealmente todos os dias no mesmo lugar até falecer. Você faz parte de um grupo que quer proteger o mundo da devastação, protegendo a ordem atual. A líder? A presidente do conselho estudantil cujo persona é a Rainha das Amazonas.

Tá bom pra vocês de “Lei”, “Ordem” e coisas assim?

Outro ponto é a cor azul, principal cor de Persona 3, é uma cor ligada a segurança, estabilidade, justiça e lealdade. Não é à toa que empresas, grupos e coisas assim que queiram transmitir segurança, usam a cor azul. Cor também que significa tristeza, já que o Makoto é um sadboy. Mas o principal indício disso tudo é o símbolo forte do verdadeiro último Persona do protagonista: Messiah. Jesus Cristo e sua história são uma de se sacrificar pela humanidade e IMPEDIR que o status quo mudasse, mesmo que ao custo de sua vida aqui na Terra, tornando-se o símbolo do mesmo regime vigente do planeta.

Doido né? Calma que vai ficar mais…

Alegria, identidade, egoísmo e foda-se o Teddy

Porque em Persona 4 estamos lidando com a Neutralidade. Não temos episódio (ainda), mas é um jogo que sai do turbilhão da cidade grande vamos para o interior super bucólico do Japão. Os Personas são as deidades, lendas e folclores japoneses, fundadoras ou não, que como dito anteriormente, costumam aparecer no campo da Neutralidade (principalmente por sua faceta natural). A(s) história(s) de Persona 4 falam sobre o indivíduo mesmo e sua alegria de viver sem precisar de mais nada além do que já existe. A única lei é a lei da natureza e o único caos é o caos dela também. Um grupo de jovens que investiga e luta contra algo que não representa uma luta entre quem manda e quem é mandado, resolvendo tudo para eles e a comunidade deles e nada mais que isso e que no fim, torna-se uma luta pela sua própria identidade. Egoísmo sem ser pejorativamente.

Eu ia falar do Teddy, mas foda-se o Teddy.

A cor amarela está ligado a alegria e positividade, sim, temas essenciais ao jogo, mas é uma das cores que mais tem significados bons e ruins ao mesmo tempo na semiótica e design. Mas, talvez seja forçar um pouco a barra, mas alegria é algo neutro aos problemas do mundo. Pode seguindo a Ordem ou lutando contra ela, todo mundo pode ser alegre e feliz. Pode comemorar. Isso é visto também na escolha da música de Persona 4, que é muito mais alto astral do que o seu anterior, com temas mais “pop”, “idol” e coisas assim.

E mais uma vez, foda-se o Teddy.

Porém, acho que o maior soco nesse sentido vai pro Persona 5.

Vermelho, rebeldia, caos e VAMOS SEU CORAÇÃO!

A cor Vermelha é associada, imediatamente, à rebeldia. E adivinha qual é o principal tema de Persona 5? Boa parte das coisas, se não quase tudo, em Persona 5 se trata de se rebelar contra ordem pré-estabelecida. Numa camada menor, a mais superficial, vemos a luta dos Phantom Thieves contra os adultos e tudo que eles (e isso é importante) acham errado e querem lutar contra. Phantom Thieves esses que tem um gato, o símbolo da rebeldia animal, como seu mascote. Tenha isso em mente.

Daí passamos, ainda na superfície, para uma camada mais interna, ainda próxima a superfície. Além do vermelho, os elementos de Pop Art (vertente artística conhecida pela quebra com o status quo). Na música, temos o jazz – estilo fundamentalmente conhecido por leituras mais doidas, contra-sistemas e coisa assim. Os Personas são todas figuras ligadas à rebeldia e quebra da ordem vigente e que tem suas próprias crenças em como devem tocar as coisas. Arsene Lupin, Zorro, Goemon, Capitão Kidd, Carmen. Todas figuras que simbolizam contracultura e rebeldia. Os próprios Phanthom Theives, cada um deles, representam rebeldia, revolta e caos à sua maneira.

A próxima camada, é a camada da história do jogo que ainda ligada a questão dos Persona, reconta a “Revolta de Lúcifer” do ponto de vista do Gnosticismo com Satanael dando um pipocão na cabeça d’O Demiurgo, Yalbadaoth.

Só que a coisa mais bonita de como Persona 5 é o Caos da sua trilogia é justamente a camada mais interna, a “meta-camada”. Os personas, dessa vez, não são deidades ou figuras mitológicas: são personagens da ficção, literatura, teatro! Suas evoluções, seguem sendo “deuses”. Entre aspas, sim. São figuras divinas, mas cultuados por pessoas que buscam libertação daquilo que as prende. Hecate, a deusa da Bruxaria e Encruzilhadas; Susanoo, o deus das tempestades no Japão e conhecido por seu temperamento rebelde; Mercurius, patrão dos ladrões; Satanael, o “primeiro rebelde”. Se antes, você adquiria os Personas em cartas, agora você convence os Personas a se juntarem à você. As sombras deixam de ser inimigos próprios e se tornam os próprios Personas que podem ser adquiridos. Aliás, cartas? Nada disso, “Máscaras”.

Ou seja…

Não há como a gente comprovar nada a disso a menos que digam, claro. Além do fato das três cores primárias terem sido usadas (Azul, Amarelo, Vermelho) serem também associada a Law, Neutral e Chaos no SMT em diversos jogos da franquia, nada pode ser dito com certeza. Mas são decisões deliberadas demais para serem coincidências. São escolhas muito embasadas para serem coincidência. Aliás, não era Jung que falava claramente sobre detalhes assim serem Sincronicidade e não coincidência?

Hmm… que coisa…

Bom, aproveita que você leu isso tudo e com certeza se amarra em Persona e conheça nossos projetos relacionados! Temos 2 episódios e um outra timeline INTEIRAMENTE dedicada ao Persona 3 Reload! Ouve lá!

 

 

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