Uma coisa que pessoalmente tento me distanciar é do conceito de que toda história precisa ser um épico super profundo com desenvolvimento de personagens de longuíssimo termo e que termine de forma extremamente retumbante, a ponto de me deixar sem palavras. The Plucky Squire – O Escudeiro Valente aqui – é um jogo que me ajudou muito mesmo nesse distanciamento e você vai ler aqui extamente como Pontinho, Violeta, Batera e seu mundo despretensioso me deixaram com vontade de mais
Gênero: Aventura, Ação
Lançamento: 17/09/2024
Plataformas: PS4, PS5, XBO, XSX, Switch, PC
Tem idioma PT-BR: Sim, dublado inclusive
Desenvolvido por All Possible Futures
Publicado por Devolver Digital
Era uma vez…
Pelos trailers e imagens de The Plucky Squire você já deveria ter imaginado que essa é uma história sobra uma história, bem metalinguística. E de fato, é. Você comanda o Valente Escudeiro que dá título ao jogo, Jot, que defende o seu mundo das feitiçarias malignas de – espera aí. Eu acho que daqui pra frente, temos que enaltecer demais o trabalho de localização de The Plucky Squire então os personagens, eventos e tudo mais usarão usa versões em PTBR. Aliás, a localização do jogo está, sem mais nem menos, PERFEITA. Gírias bem colocadas, nomes que devem ter sido um inferno para localizar e tudo o mais feito de forma sensacional e, por um instante, eu quase achei que fosse um jogo BR mesmo!
Bom, mas como eu ia dizendo, Pontinho é o valente escudeiro que protege o mundo de Enfezaldo, um feiticeiro maligno. Isso é algo recorrente na vida de Pontinho e seus dois melhores amigos: Violeta, uma bruxa artística e Batera, um trol das montanhas e futuro guerreiro do METAL (não é zoeira)
As coisas começam a ficar realmente incríveis quando Enfezaldo, em mais um duelo contra Pontinho, descobre que todos ali são personagens de um livro – uma série deles, na verdade – e em todas as histórias, ele é derrotado. Então, decidido a mudar seu destino e o destino do mundo, ele decide TIRAR Pontinho do livro com metamagia e ele se torna algo de verdade, existente, no nosso mundo. Ele descobre, também, graças a uma Traça de Livro mágica que um livro que não inspira alguém perde sua força vital e o mundo deixa de existir. Isso não é um perigo só para seu próprio mundo, mas é também para Sam, um futuro escritor de sucesso e dono da mesa onde tudo acontece FORA do livro que precisará da inspiração das aventuras de Pontinho contra Enfezaldo.
Para além da história simples, fofinha e cativante e de seus personagens que não precisam de sete jogos diferentes e duas prequels para entendermos suas motivações, The Plucky Squire não é simplório. Há temas super profundos que são tratados aqui de maneira tão gostosa que a gente nem sente. Identidade, destino, deveres, diversidade… tudo isso é posto de maneira genial.
O ponto principal do jogo é justamente a maneira fácil que ele tem de fazer a tão famigerada quebra da quarta parede: faz isso sem sofrer de Síndrome de Deadpool. Por exemplo, o jogo tem momentos 2D – bem Zelda de SNES, visão de cima, com direito a lançar espada e ataque giratório – que se passam em desenhos e livros na mesa de Sam. Em determinados momentos, haverão puzzles que são descrições do livro e, no maior estilo Baba is You, será necessário que troquemos palavras de lugar nas frases para que passemos do puzzle. Calma, tem mais: tem horas que é necessário passar de páginas para fazer esses puzzles e inclusive alguns segredos do jogo pedem isso. Não é tão difícil quanto o jogo que inspirou essa mecânica, mas novamente, é gostosinho demais. A quebra de quarta parede ainda continua quando você faz interações muito bacanas no mundo 3D, fora do livro. Alguns dos desafios necessitam de objetos de dentro do livro para serem realizados (ou vice-e-versa!) e aí, nesse momento, o jogo vira um plataforma bem preciso de jogar. Você poderá, eventualmente, manipular o livro (do tipo, inclinar ele pra um objeto se movimentar!) e outras coisas que tornam essa uma experiência que muita gente sempre quis, mas nunca pode ter.
Uma ode aos games
Na verdade mesmo, The Plucky Squire é o videogame mais videogame da história dos videogames até agora. Falo com tranquilidade e sem medo de soar exagerado. Tudo aqui é muitíssimo videogame e o argumento definitivo de como essa mídia deveria ser tratada. Eu disse que o momento 2D do jogo é Zelda de SNES, né? Pois é, só que em determinados momentos, o jogo vira um plataforma 2D de ação, com Pontinho resolvendo puzzles e batendo em Duendes. E não vou nem entrar em detalhes dos minigames absurdamente videogames que esse jogo tem. As batalhas de boss, todas, são uma homenagem a jogos. Tem jogo de tiro, tem jogo de navinha, tem momento Punch-Out, RPG à lá Dragon Quest e até Rhythm Heaven! Novamente, tenho que apelar para o chavão do “simples, não simplório” aqui. O jogo não mede esforço algum de mostrar isso como um extra, a cerejinha do bolo e de maneira que se encaixa bem com a quebra de quarta parede e ainda é GOSTOSO E DIVERTIDO de jogar.
Nada em The Plucky Squire parece fora de lugar só por ser. Tudo é coeso, arte fenomenal, atuação de voz impecável, piadocas que tem camadas (alô Concha de Assis, um abraço!) e um bazilhão de referências muito legais. A capital Ártria e seus habitantes vai deixar vocês com um sorrisinho bobo, confiem em mim.
No que tange jogabilidade, The Plucky Squire não reinventa roda, mas também não erra. Os momentos todos – seja o gameplay mais frequente, seja nos múltiplos minivideogames – são bem legais. Pontinho ganha habilidade conforme acumula lâmpadas (de inspiração) para aprender novos movimentos, ficar mais forte e mais resistente, mas nada é extremamente desafiante aqui. Pelo contrário, o jogo é bem fácil. Isso pode acabar afastando algumas pessoas, mas…
Dificuldade não é qualidade
Está bem na cara que essa é a proposta do jogo. Acessível para todo mundo jogar. Você pode se desafiar e fazer uma run sem comprar nenhum upgrade de Pontinho se quiser, mas me arrisco a dizer que esse daqui se tornou o melhor ponto de entrada para qualquer tipo de pessoa que queira jogar videogame um dia. É uma forma gentil, gostosa e muito bem feita de apresentar um bom videogame para uma pessoa.
E que jogo bonito, credo. O traço dos personagens, o charme de todos os lugares que você visita, as pequenas referências visuais que ora estão escondidas, ora estão bem na nossa cara, pelo jogo fazem de The Plucky Squire o argumento cabal de uma máxima do Galinha Viajante: Direção de Arte > Gráficos Realistas. Não que os momentos fora do livro (que são em 3D) sejam feios, mas me geraram uma estranheza, quase como se fosse o objetivo do jogo me fazer sentir alienígena àquilo tudo e quisesse que eu voltasse para meu mundinho 2D de livro infantil com uma pegada meio Cartoon Network. O esmero visual e sonoro desse jogo é de um carinho tão grande que se eu ficar falando aqui, vai parecer que eu só estou babando o ovo, então é mais fácil eu mostrar para vocês:
Veredito: Obrigatório
The Plucky Squire é o argumento irrefutável de como um jogo precisa se entender como a mídia que é. Você vai jogar ele, mesmo, ao invés de achar que é só um filme interativo ou um “faça sua própria aventura” com mais enfeites. A exploração fácil, os personagens simples, a história fofinha e a arte incrível tornam a aventura d’O Escudeiro Valente, facilmente, um dos melhores jogos de 2024, indiscutível indie do ano e forte candidato ao jogo do ano. Embora sua facilidade possa ser obstáculo para algumas pessoas, ele é sem dúvida, o melhor jogo para alguém que nunca jogou videogames entender o porquê dessa mídia ser tão amada e querida por muita gente aí a fora. Mais do que obrigatório, é um dever de todo fã de joguinhos jogar essa jóia rara aqui!
Jogue se você curte: videogames
MUITÍSSIMO Obrigado ao pessoal da Devolver pela chave cedida! Valeuzão! ♥
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