Em 2025 a franquia Tales of faz trinta anos. De Tales of Phantasia, o jogo de estreia da franquia no SNES, até o mais recente Tales of Arise, os fãs de RPGs de ação e de mundos e histórias de fantasia e anime se deliciaram com alguns dos jogos mais sensacionais já feitos. Abyss é o favorito de muitos fãs (meu, inclusive) pela sua história, mundo e personagens. Vesperia é outro comumente colocado no topo das listas de melhores da franquia pelo conjunto da obra – e tem um cachorro que tem um cachimbo. Symphonia, Xillia, Berseria e Arise todos tem seus fãs. Até mesmo os menos jogados e menos falados, como Rebirth e Innocence, são excelentes jogos. Nesses 30 anos a franquia vem evoluindo cada vez mais seu sistema de combate inovador, de ação em tempo real, no qual você controla os personagens quase como se fossem bonecos de jogos de luta. E no meio dessas três décadas, com tantos jogos lançados, poucas coisas são consenso entre os fãs do mundo. Na verdade, provavelmente só uma coisa é consenso. Tales of Graces f tem o melhor sistema de combate da história dos videogames.
Gênero: RPG de Ação
Lançamento: 17/01/2025
Plataformas: PC, PS4, PS5, XB1, XSX, Switch
Tem idioma PT-BR: Não
Desenvolvido por Tales Studio, TOSE Co Ltd
Publicado por Bandai Namco Entertainment
O Remaster do Remaster
Antes de mais nada, acho que vale dar um pouco de contexto. Tales of Graces (que, curiosidade, quase se chamou Tales of Floria ou Tales of Blessia, entre outros nomes) foi lançado originalmente para Nintendo Wii em 2009, e logo de cara já ganhou o amor dos fãs da série e da imprensa, recebendo 36/40 na Famitsu (algo que, na época, ainda queria dizer bastante coisa). Ainda assim, grande parte dos fãs da franquia não pôde jogar, pois além de ser exclusivo do console da Nintendo, o jogo ficou apenas no Japão.
Pra remediar isso, em 2013 a Namco lançou para PS3 o jogo sob a alcunha de Tales of Graces f. O “f” significa “futuro”, pois o jogo, além de vários rebalanceamentos e conteúdos extras, agora contava com toda uma nova história que se passa após o final original, chamada “Lineages and Legacies”. Desde então o jogo ficou apenas no PS3, console de difícil acesso hoje em dia, já que não existe fácil retrocompatibilidade nos consoles atuais da Sony.
Comemorando 30 Anos da Franquia em Grande Estilo
Comemorando os 30 anos da franquia, a Bandai Namco anunciou em meados de 2024 o Projeto Remastered, através do qual prometeu que iria lançar, de maneira bem constante, jogos clássicos remasterizados da franquia. Pra inaugurar, anunciou já pro começo de 2025 uma remasterização do Tales of Graces f. E ele finalmente está entre nós. O mais legal é que não é um simples relançamento preguiçoso – muito pelo contrário. O jogo tem MUITA coisa nova. Pra melhor qualidade de vida, essa edição conta com coisas que hoje em dia já são padrão, mas que na época não eram, como um indicador de objetivo – sutil, e que pode ser desativado se o jogador quiser – e a possibilidade de pular cutscenes.

As opções de customização e qualidade de vida são gigantes, e o jogo conta inclusive com a opção de desligar completamente os encontros com os inimigos. A maior mudança é o acesso ao Grade Shop desde o início, através do qual o jogador pode personalizar completamente sua experiência. Quer ganhar 2x mais EXP e SP? 5x mais? Quer NÃO ganhar NADA de EXP e jogar o jogo inteiro no nível 1? Esses extras que permitem que o jogador customize a dificuldade do seu jogo, comuns na série Tales mas normalmente só acessíveis no New Game Plus, agora podem ser utilizados desde o início. Ah, e o jogo ainda conta com diversas roupinhas, acessórios e outros extras, originalmente DLCs da versão de PS3, agora incluídos no jogo.

Visualmente, é bem claro que se trata de um jogo remasterizado da época de 2010. As texturas são simples, os modelos de personagens não são super detalhados… Mas é aqui que entra a excelente direção de arte da franquia. Apesar de os jogos da série serem completamente independentes (sim, você pode jogar Graces ou qualquer outro Tales of sem medo, a não ser nas situações óbvias, como Tales of Xillia e Tales of Xillia 2 que são, é claro, continuações diretas), todos os jogos da franquia seguem uma linha audiovisual bem coerente e maravilhosa. Essa direção de arte funciona muito bem desde o SNES, passando pelo PS1 e chegando até os jogos mais modernos, e dá uma cara atemporal e um charme único a todos os jogos da série.
Na parte de som, a trilha sonora conta com uma equipe liderada por ninguém menos que Motoi Sakuraba, veterano da franquia e compositor de outras coisas, como Dark Souls, Valkyrie Profile e Star Ocean. Com esse currículo, desnecessário dizer que a música é sensacional. O jogo ainda conta com a opção de seleção de vozes em inglês (com um elenco de peso) ou no original em japonês, pra quem quiser ter a experiência mais anime possível.
O Melhor Combate de Ação da História
Sem medir palavras e sem medo de ser feliz, posso afirmar o seguinte: Tales of Graces f possui o melhor sistema de batalha de ação em tempo real que eu já vi em um RPG. Não existe outro jogo melhor. Sendo bem claro: não estou falando apenas da franquia Tales of, estou falando de TODOS os RPGs de ação que eu já joguei na vida. O jogo funciona com uma tela de combate separada do mundo que você explora – você encosta em um inimigo e é transportado para uma arena de combate. A partir daí, seu grupo de 4 personagens enfrenta seus oponentes em combates de ação em tempo real. Um botão do controle dá os ataques básicos (“Artes Alfa”), enquanto outro botão usa os ataques especiais (“Artes Beta” ou “Burst”). Um terceiro botão é usado para defender e esquivar. Para mais opções, como usar itens ou modificar a estratégia dos aliados, basta apertar o botão de menu. Parece tudo bem padrão né? Mas o que torna esse combate tão maravilhoso e diferente, então?

Pra começo de conversa, o jogo tem batalhas excelentes desde o início. Tem muitos RPGs de ação que até tem combates legais, mas eles só ficam legais depois de você jogar umas 20 ou 30 horas. Tales of Graces f já te dá as principais ferramentas de batalha desde o início, e a partir daí o jogo vai apenas introduzindo mais complexidade e mais opções de especiais e combos. E falando em combos, esse é o ponto chave, e é difícil descrever isso em palavras, mas vou tentar. É muito divertido e fácil encaixar uma habilidade na outra, e na outra, e na outra… O jogo é feito para que o jogador consiga emendar um ataque especial em outro, formando combos da maneira que quiser. Você rapidamente se sente como um jogador profissional de Street Fighter ou Tekken, só que num JRPG.
Funciona assim: lembra que o jogo tem só dois botões de ataque, um pra ataques básicos e um pra especiais? O diferencial é que Graces funciona como um jogo de luta mais simples. O botão de ataque básico solta um ataque, mas se você combinar esse botão com uma direção do analógico, o ataque muda. Se você segurar o botão em determinado ponto do combo, o ataque muda. E cada um desses movimentos tem características diferentes, acertando fraquezas diferentes e causando status diferentes. Se o seu inimigo é um pássaro fraco a ataques de gelo, é seu trabalho, durante o combate, encontrar e “montar” o combo ideal para esse inimigo. O mesmo acontece com os especiais – um total de oito ataques especiais podem ser equipados nos diferentes comandos possíveis.

Tudo isso é regido pelo sistema de CC. Você pode pensar no CC como a “stamina” para ataques do seu personagem. Cada ataque gasta um valor de CC, e enquanto você tiver CC você pode continuar combando. Isso faz com que o jogador precise pensar nos ataques que vai usar. Graças a esse sistema nascem as duas características principais e mais maravilhosas do combate de Graces. Primeiramente, esmagar botões simplesmente NÃO funciona – se você tentar, seu CC vai acabar rapidinho e você vai ficar vulnerável a contra-ataques dos oponentes, que sabem muito bem utilizar essa janela de oportunidade. Segundamente, e mais importante, o teto de habilidade é altíssimo.
Aprendendo a Combater
O controle da sua quantidade de CC é a única coisa que te faz poder atacar ou não – não existe MP ou outro custo ligado às habilidades. Por isso, o jogador que é capaz de utilizar de maneira inteligente e eficiente os sistemas de recuperação e conservação de CC consegue combar de maneiras brilhantes. Defender, esquivar na hora certa, acertar a fraqueza do oponente, fazer combos com alto número de hits… Estas são apenas algumas das maneiras de manipular sua barra de CC, e enquanto ela estiver sendo recarregada, você pode continuar atacando. Dominar esse sistema é a chave para ser um deus no combate de Tales of Graces f, e fazer isso é extremamente satisfatório.

O jogo te ensina rapidamente esse sistema fundamental de controle de CC e, a partir daí, é seu papel evoluir não só o seu personagem, mas a sua própria habilidade como jogador. Novas camadas de complexidade vão sendo adicionadas com o decorrer do jogo, mas uma coisa nunca muda: é um sistema extremamente recompensador, desafiador e divertido.
E não é só isso! Cada um dos sete personagens controláveis durante o jogo tem mecânicas próprias (Asbel recupera HP cada vez que emenda uma Arte Beta em uma Alfa, por exemplo), e você pode controlar quem quiser quando quiser, sem ficar limitado a controlar só o protagonista. Durante a batalha, cada um dos quatro membros do grupo que está presente no combate fica ligado a um dos botões do direcional do controle, e basta apertar ali pra trocar quando quiser. Agora imagine que você controla Asbel por um tempo, gasta todo o CC dele, e troca rapidamente para Hubert, que está com a barra de CC cheia, pra continuar combando enquanto Asbel se recupera… Sacou como o teto de habilidade é alto e as possibilidades são praticamente infinitas?
Evoluir os personagens também é algo constante graças ao sistema de Títulos, mas pra explicar o que eles são é bom dar uma passadinha rápida em tudo que você pode fazer nesse jogo.
Explorando Ephinea e Ficando Mais Forte
O mundo de Ephinea é vasto e cheio de atividades, sidequests e segredos. Por exemplo, o sistema de síntese. Quer uma arma nova? Você pode comprar uma na loja da cidade, é claro. Mas você também pode usar o sistema de “Dualize”, através do qual dois itens são fundidos e viram um item novo. Esse é o sistema básico de síntese de Tales of Graces f, e é através dele que você faz uma infinidade de comidinhas, acessórios, equipamentos, itens de uso único… E aí quando você faz uma arma nova através desse sistema você ainda pode fundí-la com outro item para dar características adicionais e aumentar seus status. Cansou de usar essa arma ou pegou uma mais forte? Extraia os atributos únicos dessa arma e funda-os com uma mais forte. E faça o mesmo com suas armaduras. E acessórios.
Gosta de explorar a história e o passado do mundo? Bom, então tente encontrar todos os pontos de Descoberta – lugares especiais do mundo, como monumentos ou pontos naturais da geografia de Ephinea. Cada um desses pontos te dá um pouquinho mais de conhecimento daquela região, além de desbloquear uma nova Skit (mais sobre as Skits daqui a pouquinho). Enfim, as possibilidades são muitas, e basta fuçar que você encontra uma nova sidequest, um novo segredo, um novo baú trancado por um enigma ou um novo oponente para o joguinho de cartas que o jogo tem.

Tudo o que você faz te dá algo semelhante a “achievements” no jogo. Passou de certa parte importante da história? Ganhou um novo título. Derrotou certa quantidade de inimigos? Novo título. Acumulou muita grana? Fez muita síntese de itens? Achou muitos pontos de Descoberta? Título, título, título. E ao batalhar, além de ganhar EXP para subir de nível e aumentar seus status, você ganha SP. Os SP são pontos que evoluem seus títulos, e cada título vem com 5 habilidades que, depois de serem aprendidas, ficam com seu personagem.

Essas habilidades podem ser simples como aumentar seu CC ou HP, mas é por aqui que você aprende TODOS os seus ataques especiais e outras habilidades passivas que mudam completamente seu estilo de jogo. E está nas suas mãos escolher qual título você quer equipar e evoluir primeiro, e são dezenas de títulos para cada personagem, cada um com cinco habilidades. Essa evolução de personagem completamente não-linear coloca cada um dos membros do grupo completamente nas mãos do jogador, e isso é muito bem-vindo, algo raro em RPGs com combate de ação em tempo real.
Você Já Viu Essa História Antes…
Tales of Graces tem uma história divertida, com personagens legais de acompanhar e cenas e plot twists bem executados, mas não é exatamente um jogo com uma narrativa surpreendente. Garota com amnésia? Sim. Amigo de infância que vira seu rival? Com certeza. Reinos em guerra por recursos mágicos? Pode apostar. Civilização antiga com tecnologia super avançada? É claro. Tudo isso acontece nas primeiras cinco horas de jogo, e daí pra frente basta você ter jogado RPGs japoneses ou assistido anime pra saber onde tudo isso vai parar.
Não é porque é clichê que é ruim, muito pelo contrário. A franquia, desde Phantasia no SNES, preza pelo desenvolvimento das relações entre os personagens e aqui não é diferente. Muito mais importante do que a história são os personagens que participam dela. Você vai realmente se sentir amigo de cada membro do grupo, cada um com seu carisma e suas características únicas, dentro dos arquétipos comuns de uma história shonen. Você vai acompanhar, principalmente, o crescimento pessoal de Asbel e ver como ele deixou pra trás a amizade de pessoas que agora precisa recuperar. Resumindo, não jogue Graces esperando uma montanha russa de surpresas, mas jogue esperando um quentinho no coração e uma aventura entre amigos, e você sairá satisfeito.

Para coroar esse foco em relações entre personagens, Tales of Graces conta com centenas (sim, literalmente centenas) de skits – pequenas cenas apresentadas por quadrinhos de arte na tela, todas com atuações de voz. Essas cenas não fazem parte da história “principal” do jogo, mas são interações divertidas entre os personagens em momentos específicos, reagindo a paisagens, momentos, lugares… Muitas das cenas mais engraçadas do jogo estão aqui, e é nas skits que a personalidade de cada um dos membros do grupo é construída e solidificada ainda mais. Todas são absolutamente opcionais, e precisam inclusive ser ativadas para serem vistas (aparece um botão na tela quando uma Skit está disponível), mas eu encorajo qualquer jogador de Tales of a assistir todas. Essa remasterização inclui até algumas skits que, originalmente, tinham ficado só na versão original japonesa de Wii.

Além das skits, o jogo ainda conta com conversinhas pós batalha, outras cenas opcionais… Tudo do jogo coloca o holofote narrativo nos personagens. Novamente, não é nada que você já não tenha visto em outros JRPGs ou animes, mas é tudo muito bem feito. Impossível não cair pra trás com conversas como “Pascal, o que é um cabeça-de-vento?” / “Alguém tão inteligente que é capaz de controlar o ar com a mente!”. Resumindo, Tales of Graces não vai ganhar prêmios de melhor roteiro, mas seu mundo é vasto, detalhado e acolhedor, seus personagens são carismáticos e o senso de aventura é inigualável.
Veredito: Obrigatório
Tales of Graces f Remastered é o primeiro jogo a ser remasterizado em comemoração aos 30 anos da franquia, e a escolha foi excelente, pois além de ser muito querido pelos fãs de longa data, é um ponto de entrada fenomenal para quem ainda não conhece a série. O jogo é obrigatório pois é um dos melhores exemplos de RPG de ação já feitos, com um sistema de combate e evolução de personagens absolutamente impecável, e com experiência e dificuldade muito personalizáveis, atendendo a todos os gostos. Isso somado a um grupo muito carismático de personagens, uma história leve e um mundo super divertido de explorar faz de Tales of Graces f Remastered uma excelente maneira de começar 2025. E que venham outros remasters da franquia… Alguém falou em Tales of The Abyss, por favor?
Jogue se você curte: RPGs de ação, anime, bom humor
Agradecemos demais ao pessoal da TheoGames e Bandai Namco pela key enviada! Muito obrigado MESMO!
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