Monster Train 2 – Próxima Estação: Paraíso!

Monster Train, o primeiro, de 2020, é um dos melhores roguelite deckbuilders já vistos. Temos inclusive um episódio sobre esse tipo de jogo (você pode ouvir aqui), e ele foi um dos seis jogos citados como destaques do gênero na nossa opinião – junho com Cobalt Core, Wildfrost e outros. A realidade é que, depois de Slay The Spire, muita gente resolveu fazer seu próprio roguelite deckbuilder pra surfar na onda – ou melhor, entrar nesse trem do hype. Só que quando Monster Train 1 foi lançado não existia muita concorrência no mercado, e agora em 2025 tem roguelite deckbuilder saindo pelo ladrão. E aí: Monster Train 2 entrega um jogo que faz justiça ao seu antecessor e é capaz de se destacar hoje?

Gênero: Roguelite, Deckbuilder
Lançamento: 21/05/2025
Plataformas: PC, PS5, XSX, Switch
Tem idioma PT-BR: Sim
Desenvolvido por Shiny Shoe
Publicado por Big Fan Games

 

A Caminho do Paraíso

Um bom roguelite deckbuilder precisa de um “twist” – alguma mecânica, ideia ou execução que chame atenção e diferencie ele das dezenas (centenas?) de outros no mercado. Cobalt Core, meu favorito, faz isso com um sistema de combate de naves espaciais que leva em conta o posicionamento, por exemplo. Monster Train também tem isso, e essa é uma das suas maiores forças. Em Monster Train, tanto no 1 quanto no 2, você não está em um combate normal, mas sim jogando uma espécie de tower defense – ou melhor, train defense, já que o objetivo do jogo é defender seu trem da invasão dos inimigos, que são monstros, demônios e anjos. Seu trem tem três andares nos quais você vai posicionar unidades, usar magias e até colocar armadilhas, e aí os inimigos invadem seu trem no primeiro andar e vão tentando subir até o terceiro. Se eles chegam ao terceiro andar e saem vivos de lá eles alcançam o quarto e último andar, onde está o coração de seu trem, e aí se você perde esse coração o seu trem é destruído e você perde o jogo.

A tela de combate de Monster Train 2. E eu tentando defender meu trem com uns experimentos científicos esquisitos

A história, embora não seja o ponto mais importante do jogo, é uma continuação de Monster Train 1. A diferença é que no jogo anterior nosso trem estava tentando alcançar as profundezas do inferno, enquanto que agora em Monster Train 2 estamos tentando levar nosso trem até o topo do paraíso para derrotar os Titãs que tomaram conta de tudo. Nesse caminho a progressão é bem comum a um roguelite: escolha entre diferentes opções de upgrades e desafios e vá avançando pouco a pouco até alcançar seu objetivo.

Um dos únicos problemas que eu tenho com Monster Train 2, porém, mora exatamente aqui. Repare que até agora eu comparei bastante Monster Train 2 com Monster Train 1, e não é por acaso. Em conceito, combate e progressão, Monster Train 2 se parece, e MUITO, com Monster Train 1. Claro que isso iria acontecer, mas as semelhanças são tantas que Monster Train 2 acaba parecendo um upgrade, uma expansão ou algo assim, de Monster Train 1. Eu diria que não existem diferenças entre os jogos, mas sim melhorias e adições. E, veja, as melhorias e adições são enormes, e Monster Train 1 já era um jogo fenomenal, então Monster Train 2 é um jogo melhor ainda – mas saiba onde está pisando. Se você já jogou Monster Train 1 por centenas de horas, talvez entre em Monster Train 2 já com um pouco de fadiga – principalmente no início, antes de liberar todos os outros modos de jogo e recursos que o jogo tem a oferecer.

Depois de cada combate você escolhe um de dois trilhos pra seguir, cada um com upgrades e eventos diferentes.

Ou seja, antes de entrar em detalhes já é legal deixar isso bem claro: Monster Train 2 é um jogo excelente, mas não parece muito um “Monster Train 2”, e sim um “Monster Train 1,5”. Esse é o principal ponto que me deixou em dúvida sobre como escrever essa análise: eu deveria “cobrar” mais inovações, mais mudanças na fórmula, mais evoluções audiovisuais? Monster Train 1 já é tão bom, será que precisavam ter mudado ou “mais do mesmo” tá bom? Minha surpresa, porém, foi perceber que quanto mais eu avançava no jogo mais eu habilitava novidades. No início da minha campanha eu estava bastante incomodado com as semelhanças com Monster Train 1, mas depois de umas 40 partidas, derrotando o chefão final verdadeiro, percebi que o jogo conseguiu entregar, a conta-gotas, muitas coisas novas e interessantes que tornaram a jornada legal, mesmo pra um veterano de Monster Train 1.

Defendendo Seu Trem

Monster Train 2 te apresenta várias maneiras de defender seu trem dos invasores que querem te destruir, sempre na forma de diferentes cartinhas adicionadas ao seu baralho. São vários tipos de cartas, mas as principais são as cartas de unidades – os diferentes personagens, monstros, guerreiros, anjos etc que você vai posicionar nos diferentes andares do seu trem. Uma vez usadas, essas cartas de unidade ficam permanentemente no lugar que você as colocou, e cada uma tem diferentes status – HP, poder de ataques, habilidades especiais ativas e passivas, etc. Monster Train 2 é um jogo relativamente complexo, no qual cada unidade conta com muitos efeitos e atributos diferentes, e se você não ficar ligado você vai acabar esquecendo de alguma coisa. Além disso, cada um dos clãs do jogo tem um herói, uma carta especial que você pode usar sem custo, no início de cada combate, e que vai liderar seus outros minions.

Senhor Fênix, o dragãozão líder do clã dos Píricos. Sua habilidade ativa cospe fogo em todo mundo.

Além das unidades o jogador ainda conta com cartas de feitiço (efeitos instantâneos como dano direto, buffs para os aliados, etc), cartas de equipamento (cada unidade pode ter uma carta de equipamento acoplada, o que confere bônus de ataque, HP ou outras habilidades), cartas de sala (que dão alguma característica para o seu trem, como causar dano no começo de cada batalha), entre outras. O número de opções ao seu dispôr é muito grande, e só vai aumentando à medida que você vai jogando, já que cada vez que você sobe de nível com um dos clãs você libera novas cartas para esse clã – e até mesmo um novo líder para cada clã quando você chega no nível 5.

Customização e Variedade

Uma das principais características de qualquer roguelite é a capacidade de fazer cada partida ser diferente da anterior. Seja com as armas e bênçãos diferentes em Hades ou com os personagens diferentes em Slay The Spire, a possibilidade de customizar sua run para que ela seja diferente da anterior é uma das coisas mais importantes para que um roguelite seja divertido e não repetitivo. É meu prazer reportar que Monster Train 2 faz isso de maneira mais do que exemplar. São cinco clãs jogáveis (inicialmente, mas o jogo tem segredos…), cada um muito único e com mecânicas próprias, além da possibilidade de customizar o coração do seu trem – a Pira – com habilidades únicas bem poderosas. O mais legal é que cada partida não é jogada com um clã, mas com DOIS: um principal, chamado Clã Primário, e um de suporte, chamado Clã Aliado. E os clãs e heróis são super diferentes uns dos outros, gerando combinações que realmente tem gameplays diferentes.

O seu clã principal define quem será seu herói, enquanto o clã de suporte te dá algumas cartas daquele clã. Isso gera uma possibilidades absurdas e maravilhosas, e é daqui que saem os combos mais quebrados que o jogo tem a oferecer. Recomendo ao leitor que passe um tempo aprendendo as mecânicas do clã do Submundo com suporte do clã da Liga Lazarus. Foi com esse combo que eu derrotei o chefão final verdadeiro – e foi uma luta bem fácil. Levando em conta que cada clã tem mecânicas muito diferentes e uma montanha de cartas pra liberar e usar, as possibilidades de combinação aqui são gigantes, e você pode passar horas e mais horas jogando sem nunca repetir uma combinação de clãs. Isso sem nem citar as diferentes relíquias – itens poderosos com habilidades passivas que moldam sua run.

Acha que tá forte? Tente passar por uma Provação ou ativar um Pacto.

A customização não para por aí. O jogo, inicialmente, é relativamente fácil, mas logo você libera o sistema de Pacto. Através dos Pactos cada partida terá modificadores que fortalecem seus inimigos ainda mais e aumentam a dificuldade das runs. Tá achando pouco? Antes de cada batalha você ainda pode escolher passar por uma Provação. Se ativada, a Provação dá aos inimigos daquela batalha algum bônus bem grande, tornando aquele combate bem mais difícil. Vencer uma Provação, porém, te dá mais recompensas, o que te torna mais poderosos ainda para os desafios que virão. Esse tipo de sistema, no qual você aumenta a dificuldade de propósito pra obter maiores recompensas, é uma das coisas mais satisfatórias e bem equilibradas de Monster Train 2.

A variedade não para por aí. Como se tudo isso não fosse suficiente o jogo ainda conta com um modo muito legal chamado Portal Dimensional. Nesse modo de jogo você enfrenta partidas com modificadores enormes e clãs pré-determinados. São runs-desafio que viram o jogo do avesso e fazem você reaprender o jogo inteiro, e é aqui que você vai comprovar que realmente conhece Monster Train 2 por completo. É um modo de jogo extra que não é necessário para que você enfrente o chefão final verdadeiro, mas não deixe ele de lado porque é super divertido.

O Portal Dimensional, uma série de desafios pra quem quer um jogo ainda mais variado.

Nesse quesito de variação entre uma partida e outra, meu único desejo seria ver mais chefões e inimigos diferentes. Embora exista uma gama gigantesca de diferentes clãs e cartas pra usar, o jogador acaba enfrentando os mesmos inimigos em cada partida, e eu entendo que isso torna o balanceamento do jogo um pouco mais fácil, mas ainda assim seria um jogo mais interessante se cada run tivesse inimigos um pouco mais diferentes. Não senti que prejudicou a experiência, e os inimigos que o jogo tem já contam com mecânicas interessantes de enfrentar, mas fiquei com aquele gostinho de “quero mais”, sabe? Quem sabe em uma futura expansão o jogo entregue isso.

Veredito: Obrigatório

Monster Train 1 já era um dos melhores roguelite deckbuilders já lançados, e Monster Train 2 tomou seu lugar como a versão definitiva desse conceito. Embora se pareça muito com Monster Train 1, principalmente no início, Monster Train 2 é um jogo excepcional que entrega conteúdo de qualidade e em grande quantidade, com variação praticamente infinita de builds e performance audiovisual perfeita (pude testar o jogo no PC, PS5 e Switch e todas as versões rodam super bem). Tudo isso disponível em uma localização muitíssimo bem feita em PT-BR. Pra quem é fã de roguelite deckbuilders Monster Train 2 é um potencial candidato a jogo do ano, e mesmo pra quem não é fã do gênero, esse é um daqueles jogos que deve ser jogado ainda assim, principalmente por ter uma mecânica base tão diferentes de tantos outros jogos. 

 

Jogue se você curte: Roguelites, Deckbuilders, Trens, A Divina Comédia

Obrigado ao pessoal da Shiny Shoe, Big Fan Games e Devolver Digital pela chave cedidas! Vocês são divinamente maravilhosos ♥ 

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