Do mesmo time que trouxe o extravagante roguelite de ação Dandy Ace chega essa aventura de piratas presos em uma ilha amaldiçoada por forças bizarras das profundezas. Mark of The Deep vai pra um caminho mais “seguro” do que Dandy Ace – é um jogo 50% metroidvania 50% souls, isométrico, com exploração e combate bem desafiadores. E embora o jogo sofra com alguns problemas, tanto na metade metroidvania quanto na metade souls, o resultado final é uma experiência positiva e que mostra cada vez mais a força dos desenvolvedores brasileiros para o mercado mundial.
Gênero: Metroidvania, Soulslike
Lançamento: 24/01/2025
Plataformas: PC, PS5, XSX
Tem Hookshot? Sim!
Tem idioma PT-BR: Sim
Desenvolvido por Mad Mimic
Publicado por Light Up Games
Um pirata, um fantasma e um Cthulhu entram num bar…
Marcus “Rookie” Ramsey é parte de uma tripulação pirata que, no meio de uma tempestade, sofre um “acidente” e vê seu navio indo por água abaixo, com o perdão do trocadilho. Ao mesmo tempo, uma ilha surge das profundezas do oceano, bem onde o navio afundou. O jogador, no papel de Rookie, acorda nessa ilha e logo percebe que não vai ser tão fácil sair dela. Começa aí uma aventura para reencontrar sua tripulação, lutar pela liberdade e desvendar os mistérios da maldição que transforma os habitantes da ilha em monstros – maldição da qual Rookie, por alguma razão, parece não sofrer.

Pela ilha, o jogador encontra diferentes personagens que vão desde a sua tripulação, agora perdida e espalhada pelos quatro cantos do mapa, até habitantes mais velhos desse lugar assombrado. Todos os personagens contam com dublagens em inglês e em português – embora as dublagens em português, por alguma razão, tenham as vozes mais “limpas”, sem efeitos. Eurydara, por exemplo, uma personagem fantasmagórica, conta com uma dublagem em inglês cheia de reverb e outros efeitos sobrepostos, dando aquela sensação de “voz do além”, enquanto a dublagem em português tem a voz mais “crua”.
A história se desenvolve principalmente através dos diálogos com os NPCs e de textos encontrados espalhados pelos diferentes biomas da ilha, que explicam, de maneira críptica, toda a mitologia do lugar. O mundo criado pela Mad Mimic é detalhado e profundo e, embora não vá surpreender ninguém que já tenha jogado, assistido ou lido outras histórias com estes mesmos temas, é divertido de explorar simplesmente por ser tão bem feito. Nem tudo precisa ser uma novidade, basta que tenha qualidade, e é justamente isso que acontece com a história, lore e mundo de Mark of The Deep.
50% Metroidvania…
Mark of The Deep é jogado em um mundo isométrico, com um progresso que é bem parecido com metroidvanias mais tradicionais. A comparação mais óbvia, até mesmo pela paleta de cores, é com o sensacional Death’s Door. O jogador explora diferentes lugares da ilha, encontrando “becos sem saída” que só podem ser ultrapassados através de novos poderes adquiridos no decorrer da jornada, que vão desde pistolas para ativar mecanismos até uma das mecânicas supremas: o hookshot. Afinal, a arma de Rookie é um gancho, então nada mais justo que ele poder enganchar e se puxar para lugares mais distantes.

O frustrante, porém, é a ausência de um mapa. O level design é labiríntico, com múltiplos níveis de terreno, passagens secretas, escadas, alavancas e botões, e os colecionáveis ficam escondidos em passagens ocultas pelo terreno ou momentaneamente inalcançáveis pela falta de uma habilidade que ainda vai ser adquirida. Por isso, poder consultar um mapa e marcar lugares para retornar depois, como o INCRÍVEL Prince of Persia The Lost Crown de 2024 fez, teria sido uma adição muito bem vinda aqui. Talvez aqui os desenvolvedores tenham feito isso para dar mais uma cara de “Souls” ao jogo, que não tem mapa a ser consultado, mas pra isso talvez o level design de cada bioma precisasse ser um pouco mais único pra que fosse mais facilmente aprendido.
Ainda assim, explorar a ilha amaldiçoada é divertido já que em cada canto existe algum personagem novo, algum pedaço de mitologia, algum upgrade novo para o seu personagem, alguma side quest… Tudo isso sob uma trilha sonora acima da média. O jogo definitivamente não é vazio, e cada canto de cada área da ilha é lotado de coisas pra interagir e descobrir.
…e 50% Soulslike
O combate de Mark of The Deep toma como inspiração declarada os jogos da From Software. Os movimentos de Rookie tem peso, os combos não podem ser interrompidos para que você dê a famosa “roladinha” pra desviar, e isso faz com que o jogador pense duas vezes antes de iniciar um ataque. No combate corpo-a-corpo o jogador tem à sua disposição um combo de três hits e um ataque carregado que também move Rookie pra frente uma certa distância. Parece pouco, mas esses dois movimentos são tudo o que é necessário, afinal a batalha não é feita pra que você faça combos enormes, mas sim para que você raciocine antes de iniciar cada paulada no seu adversário. Senti falta, porém, de mais mecânicas defensivas, principalmente no começo do jogo, quando Rookie é extremamente frágil. Com o passar do tempo o personagem fica, sim, mais “parrudo”, tanto em suas habilidades defensivas quanto nos seus pontos de HP e poções disponíveis, mas as primeiras duas a três horas do jogo são brutais, com inimigos que perseguem suas “roladas” com agilidade. Pra contra-atacar isso, porém, a solução é uma só: atirar de longe.

O combate à distância é o ponto mais forte das batalhas de Mark of The Deep na minha opinião. As armas tem uso limitado por uma barrinha que é consumida a cada tiro, mas recarregada a cada ataque corpo-a-corpo que acerte um inimigo ou um obstáculo. Com isso, o jogo pode deixar os ataques à distância bem fortes sem que eles fiquem poderosos demais. Depois de pegar a pistola, o que acontece bem no começo do jogo, o combate se torna uma dança em que o fator mais importante é o posicionamento e a distância que o jogador consegue colocar entre Rookie e os inimigos. Durante a aventura, Rookie vai pegando outras armas à distância, das quais a minha favorita é, sem dúvidas, o canhão, que causa uma explosão gigante e dá um dano ridículo – no bom sentido.
A evolução de personagem acontece através da coleta de itens que aumentam o HP e a “munição” máxima de Rookie, além de equipamentos que tem diferentes efeitos, os quais Rookie pode equipar. O sistema é idêntico ao de Hollow Knight: o jogador tem um número bem limitado de slots (apenas três, no início), e diferentes itens ocupam diferentes números de slots, sendo que os mais poderosos obviamente ocupam mais. Todos estes itens se encontram espalhados pelo mapa, mas muitos também podem ser comprados de vendedores através de Ouro que é coletado principalmente derrotando inimigos. Ou seja, se você está tendo dificuldade contra algum chefão, é hora de farmar um pouquinho de Ouro e comprar uns itens mais fortes.
Veredito: Recomendado
Mark of The Deep é um jogo que reúne muita coisa legal no meio de alguns tropeços. A falta de um mapa e a simplicidade do combate corpo-a-corpo cansam um pouco, já que o jogo dura umas 15 a 20 horas, e o level design poderia ser mais único em cada bioma. Por outro lado, a trilha sonora e a parte visual são espetaculares, o combate à distância é super satisfatório e as batalhas contra chefões são muito divertidas. O público alvo do jogo é bem definido: jogadores que gostam de explorar um mapa enorme, enfrentar inimigos poderosos e morrer várias e várias vezes. Se você curte sofrer nos tentáculos do Cthulhu, Mark of The Deep é pra você.
Jogue se você curte: metroidvanias isométricos, combate difícil, piratas, deuses exteriores que fazem seus lares nas profundezas do oceano
Entenda o sistema de avaliação do Galinha Viajante!
Leia nossos outros reviews!