Tem jogos que mostram claramente a paixão dos desenvolvedores. Que escorrem referências e piscadelas para os jogadores mais atentos. E que, por trás de muito fan service e nostalgia, ainda entregam um algo realmente, genuinamente, excelente. Kingdoms of The Dump é um desses jogos, e tornou-se rapidamente um dos meus RPGs favoritos de 2025, com um dos mundos mais criativamente esquisitos e um dos protagonistas mais amáveis dos últimos tempos – e olha que ele é uma lata de lixo ambulante.
Gênero: RPG
Lançamento: 18/11/2025
Plataformas: PC
Tem idioma PT-BR: Não
Desenvolvido por Roach Games, Dream Sloth Games
Publicado por Roach Games
Que lixo!
Não vou passar o review inteiro fazendo trocadilhos com “lixo”, mas bem que eu poderia. Pra você que tá lendo esse texto e não está sabendo, Kingdoms of The Dump é um RPG bem tradicional, nos moldes de RPGs de SNES, mas que tem um diferencial bem grande: se passa em um mundo com objetos animados. Mais especificamente, em sua maioria, coisas relacionadas a lixo.
Um dos reis? Um galão de plástico, daqueles de 20L de água, vazio. Um dos guerreiros? Uma lata de lixo azul, reciclável. Os habitantes do reino? Caixas de papelão. O protagonista? Uma lata de lixo velha chamada Dustin Binsley, um trocadilho absolutamente babaca com “dust” (poeira) e “bin” (lata de lixo). Aliás, quem gosta de trocadilhos babacas não vai ficar triste nesse jogo, e os desenvolvedores foram fundo, nomeando inclusive um grande herói do reino como GARBAMESH – e eu não estou zuando. Até mesmo o e-mail que recebi da produtora Roach Games me falando a data de embargo desse review tinha trocadilho.

Os itens de cura? Comida podre. Os inimigos? Geladeiras velhas, sapatos mostrando a língua, ventiladores. É tudo muito temático e criativo. Mas não para por aí: além de Garbagia, o reino do lixão, o jogo se passa em outros lugares desse mundo, como um reino de insetos. É um tudo realmente imaginativo, diferente e original, algo bem raro em RPGs hoje em dia. Em uma indústria em que às vezes parece que tudo já foi feito, sempre aparece um jogo independente que não tem medo de fazer uma coisa nova.
Jogar Kingdoms of The Dump é isso: é sentir que você está jogando algo realmente único só pelo fato de seu grupo ter um sobretudo ambulante pistoleiro mago bibliotecário detetive cujo nome é “Jacket” (jaqueta), e que tem um alaúde como aprendiz e escudeiro, cujo nome é “Lute” (alaúde). Uma pena o jogo não ter localização pra português brasileiro, porque muita coisa acaba se perdendo se você não dominar o inglês a ponto de entender os trocadilhos e piadinhas.

Além de tudo isso, como já deu pra notar com as imagens anteriores, o jogo é inteirinho feito em um pixel art muito delicioso, simples mas cheio de personalidade. Os cenários e o overworld, especialmente, são destaques absolutamente positivos – as construções são cheias de detalhes, as masmorras são lindas e é tudo feito com um óbvio amor por videogames.
A história é simples, mas muito carismática e faz mil homenagens a jogos que todos amamos lá da época do SNES, com direito ao protagonista perdendo o começo do festival porque dormiu até mais tarde logo no início do game – e se eu preciso te explicar qual jogo isso está homenageando, você está precisando jogar Chrono Trigger. E é claro que um início pequeno logo evolui para “precisamos salvar o rei”, o que logo se transforma em “precisamos salvar o mundo”. Todos os tropos de RPGs retrô estão aqui, e é tudo muito divertido porque tudo se passa nesse mundo imaginativo de Garbagia.

Eu não gosto de ficar contando partes específicas do jogo, mas preciso contar um pouco sobre um trecho que se passa relativamente cedo, lá por umas 5 ou 6 horas de jogo. O grupo precisa invadir uma torre de um vilão. Pra isso, o jogo se transforma em um filme de roubo, no estilo Onze Homens e Um Segredo, com direito a: pular pra desviar de lasers, desativar câmeras de segurança na sala de controle, subir por tubulações de ar, usar disfarces pra ludibriar seguranças. Resumindo, é o tipo de jogo que não tem vergonha de fazer coisas absurdas do início ao fim, e cada passo é uma surpresa.
Mas e a exploração? E as batalhas?
É tudo muito bom também! Mas vamos tentar deixar a empolgação de lado e conversar sobre o jogo por partes. Fora do combate, a exploração se parece muito com RPGs antigos da época 16 bits, com uma diferença: aqui você pode pular. Parece pouco, mas as dungeons e cidades são feitas escondendo segredinhos em cantos mais altos, ou que requerem que você não erre um pulo. Além disso, as fases podem ter obstáculos que, caso você se engane no timing de um pulo, podem te causar dano. Nunca é nada difícil nem frustrante, mas é uma maneira de deixar o jogador atento mesmo quando fora das batalhas.

Mas vamos falar das batalhas! Grande parte do jogo se passa na tela de combate, como esperado de um RPG desse tipo. E se você jogou Ikenfell (parabéns, você tem bom gosto!) você vai se sentir em casa. Funciona assim: o jogo é tradicional, por turnos, mas o combate se passa em um grid de 6×3 quadradinhos, divididos em uma área de 3×3 para o jogador e 3×3 para o oponente. A regra básica é: quanto mais a frente, perto da área do oponente, mais vulnerável a dano o jogador ficará exposto, porém mais dano irá causar com seus ataques. Além disso, vários ataques acertam em áreas específicas – linhas, colunas, diagonais, etc – o que torna o posicionamento algo não só importante, mas essencial.

Cada quadradinho do grid ainda pode ser transformado em algum terreno – lava, ácido, cogumelos, cacos de vidro – que causam dano ou outros efeitos. Já que o posicionamento é assim tão importante, o jogador pode mover cada personagem do seu grupo um quadradinho em cada turno, sem que isso finalize seu turno. Não pense que, por isso, o jogo fica fácil – lembre-se que é um pequeno tabuleiro de 3×3 onde vai todo o seu grupo. Além de andar pelo mapa de combate, cada personagem pode atacar, usar itens, usar habilidades, etc – nada fora do esperado. Só que cada ataque ou habilidade usada ou recebida pelo jogador pode ser aprimorada ou defendida apertando o botão A no timing correto – bem inspirado por Super Mario RPG.
Por trás desse simples sistema está um combate muito legal, onde cada personagem tem habilidades muito únicas e legais de usar, cada equipamento e acessório traz habilidades passivas que constroem uma build. O jogo ainda tem sistema de Level Up, com pontos pra colocar em atributos, aprendizado de habilidades… Novamente, não é nada revolucionário, mas faz tudo muito bem, e de maneira muito charmosa. Com certeza vai agradar qualquer fã de RPG.
Veredito: Recomendado
Kingdoms of The Dump é muito, muito legal, especialmente se você curte RPGs retrô da época dos 16-bits. Não quer dizer que se você tiver nascido nos anos 2000 você não vai gostar, muito pelo contrário, o jogo se apoia muito bem nas próprias pernas, com as próprias piadas babacas, com o próprio gameplay e história legal demais. Se você já não curte RPGs, não vai ser esse jogo que irá mudar a sua ideia – e é por isso que o veredito é “Recomendado”. Não considere isso como uma nota “4/5″ – o jogo realmente não tem nenhum erro grotesco, só uns probleminhas técnicos visuais aqui e ali. O que faltou só, de verdade, foi localização pra PT-BR. Essa “nota” significa que esse jogo é recomendado pra qualquer fã de RPGs, e só não deve ser jogado mesmo por quem não curte os jogos do gênero. Ou será que deve? Sei lá, reviews são um lixo. Joguem Kingdoms of The Dump.
Jogue se você curte: Chrono Trigger, Super Nintendo, uma lata de lixo que salva o mundo.