Dispatch – Todo herói é um trabalhador ou todo trabalhador é um é herói?

Dispatch é um jogo desenvolvido pelo estúdio indie AdHoc Studio, fundado por veteranos da indústria de narrativa em jogos em parceria com a Critical Role, grupo conhecido por lives de RPG. Essa é uma união inesperada, mas que chama a atenção e trouxe muita curiosidade sobre o jogo. Admito que essa curiosidade me levou ao ponto de testar porque demonstraram um trailer com animação muito maneira no estilo de desenho animado de super heróis.

Dispatch é um jogo extremamente focado em narrativa em que conta a história de Robert Robertson III, também conhecido como Mecha Man, lidando com diversos dilemas com sua equipe. Apesar do chamariz básico ser a história, o jogo conta com uma animação de alto nível e já adianto que tem muita coisa nele que faz valer a pena a jornada.

Gênero: Narrativo, Aventura, Animação
Lançamento: 22/10/2025
Plataformas: PC/PS5
Tem idioma PT-BR: Sim
Desenvolvido por AdHoc Studio
Publicado por AdHoc Studio

Uma bebidinha para relaxar!

Heróis em Queda, Pessoas em Cena: Critical Role Conseguiu

Dispatch é um jogo que conta a história de Robert Robertson III, ex-Mecha Man, um super-herói de terceira geração que perde tudo quando sua armadura de combate é destruída e ele falha numa missão trazendo consequências devastadoras. A partir disso, coisas acontecem e Robert está fora de combate, em busca de uma nova função, Robert começa a coordenar uma equipe chamada de Z-Team, constituída de ex-vilões em reabilitação.

O jogo é constituído com várias cenas que se entrelaçam muito bem. Há personagens carismáticos e você acaba se apegando a sua equipe. Cada um possui características únicas, com suas falhas, rancores, interesses e vontades. Parece pouco, mas nota-se o estilo de mundo de jogadores de RPG de mesa aqui, no qual parece ser influência da Critical Role na construção narrativa. Não dá para saber exatamente quem fez o que em uma produção, mas é notório que os detalhes dados a cada personagem parecem vir de jogadores de RPG com suas humanidades expressas nesses super heróis, inclusive o tom de zoeira que permeia muitos momentos.

O legal é que o jogo não se mantém nisso. Ele utiliza outros elementos para expor seu mundo e nos deixar curiosos sobre o funcionamento humano ali dentro: como as pessoas vivem? Quais suas rotinas? Como elas veem os super-heróis? Todas essas questões nos dão interesse e fazem a gente querer ver o próximo passo da história e isso é algo muito importante para um jogo narrativo.

Em tons gerais a narrativa é bem zoeira e animada. E isso me chama bastante atenção. Muitas histórias de heróis foram dominadas por sarcasmo e pessimismo extremo nos últimos anos. Isso não acontece em Dispatch, os personagens são meio zoeiros no geral. Alguns são sarcásticos, como o próprio Robert, mas isso é colocado em um mundo em que o problema está nas relações burocráticas e trabalhistas. Isso é um ponto importante, porque o olhar que recai sobre os personagens é para demonstrar seus afetos, problemas, dificuldades e paixões.

Quick Time Events estão em nova forma, mas são Quick Time Events

Gerenciar Heróis é Mais Interessante do Que Parece

O jogo tem uma jogabilidade muito básica no estilo de jogos narrativos. Você assiste a cena e toma decisões. Algumas delas alteram pequenas falas, mas outras alteram situações a ponto de trazer novas cenas e até mesmo mudar o final do jogo. Isso é importante, o jogo tem finais múltiplos. Essa variação da narrativa é muito importante na gameplay porque com vai gerar uma curiosidade extra para incentivar a jogar novamente e ver as outras rotas e possibilidades.

Quero dizer que o ponto da seleção de história não é muito complexo, mas traz curiosidade o suficiente para continuar. É legal e importante o suficiente para lhe deixar tenso para responder algo legal, mas não é algo revolucionário. Por outro lado, a forma como as cenas se guiam a partir das respostas, com naturalidade, semelhante a um desenho animado, é impressionante.

Em termos de jogar, temos dois tipos de gameplay: momentos de hacking e de gerenciamento. No hacking é você andando numa trilha e tem que fazer sequencias de botão em um determinado tempo. É um desafio que se complexifica, mas é o ponto mais fraco do jogo. Porque ele é só interessante para o contexto da narrativa. Por outro lado, o gerenciamento é muito legal. Sério, fiquei surpreso como é gostoso ficar gerenciando os heróis. Vou explicar…

Você vai estar numa tela de mapa e com seu time de herói disponível. Algum lugar no mapa vai criar um chamado e você vai nele para responder. Nele, você vai ler o tipo de problema, que pode ser algo como um ataque kaiju ou pegar um gatinho na árvore – trabalho de super heróis de sempre -, e a partir da sua análise do problema você vai selecionar um de seus heróis, ou um grupo, para tentar resolver esse problema. A seleção deve prever os atributos e habilidades necessários. Depois de alguns segundos, o chamado é concluído e seu herói volta para base. Aí você vai no resultado da chamada. Lá vai rolar um sistema aleatório combinando as habilidades do herói com a dificuldade do chamado e vai dizer se você foi bem sucedido ou não.

O herói, quando volta, precisará de um tempo de descanso, um tipo de cooldown. E esse ponto que cria interesse em todo o processo porque você precisa saber realmente qual herói mandar e para onde equilibrando os tempos de espera e reação. Isso faz com que cada decisão pareça muito importante. Às vezes, você vai mandar três heróis para resolver um chamado de alta complexidade e isso vai ocupá-los por um tempo importante e lhe deixar sem muitas opções para outras situações.

Quem diria que gerenciar heróis seria legal.

Isso tudo ocorre com muita narrativa. Tem muita conversa entre os heróis entre os chamados. Alguns até dão indícios de interação quando enviados juntos. Logicamente, é uma interação simplificada em que você os escuta pelo rádio, mas é legal o suficiente para você se interessar pelos personagens.

Achei isso tudo muito curioso, da minha parte, pois ansiava pela próxima rotina de gerenciamento de super heróis, porém desanimava dos hackings.

Áh! Tem também alguns quick time events que… não fazem diferença alguma no jogo. Errar não pareceu afetar a narrativa. A coisa só está ali para te manter mais atento as cenas. Então, são aceitáveis, são ok.

O gameplay de hacking é a parte fraca de Dispatch.

Dispatch é, Antes de Tudo, um Desenho Animado com Ritmo de Jogo

Em termos artísticos, Dispatch é alto nível. A arte é foda, os estilos dos personagens é tudo muito carismático e a animação é profissional. Sério, o jogo é como se estivesse jogando uma série animada. Só isso combinando com a narrativa já é motivo suficiente para jogar o game. Dispatch é um desenho animado.

A trilha sonora combina muito bem com o jogo. Algumas músicas são bem maneiras mesmo. Tudo funciona legal e vale a pena, mas dentro de um contexto de seriado de tv, no qual poucas músicas vão ficar em loop como na maioria dos jogos.

Nos e nosso doguinho sonhando em pilotar nossa mecha novamente.

VEREDITO: RECOMENDADO

Dispatch é um jogo muito bom, mas que não podemos falar muito dele porque qualquer coisa é spoiler e pode atrapalhar a experiência. Jogos narrativos se apoiam muito na história e isso pode ser um problema, para os jogos que se apoiam somente nesse aspecto. No entanto, Dispatch consegue se diferenciar e produzir uma experiência balanceada misturando bem a narrativa e dando uma sensação de agência sobre a narrativa. É notório que os quick time events e certas escolhas não mudarem tanto a história quanto o jogo nos faz pensar, porém isso acaba sendo um pormenor em meio ao todo.

Em resumo, Dispatch vale realmente a pena jogar. É um jogo prioritariamente narrativo que é bom e intrigante o suficiente para nos manter interessados pela história. Além disso, o gameplay de gerenciamento é surpreendentemente bem gostosinho de jogar e complementa a narrativa dando nuance. No fim, eu fiz esse review só para que mais pessoas apreciem esse jogo.

Jogue se você curte: Narrativa, História, Super heróis, Desenho Animado

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