O número de RPGs independentes incríveis nos últimos meses é um absurdo. Nós fãs de RPGs esquisitos, estamos MUITO bem alimentados. Recentemente tivemos Kingdoms of The Dump, que eu adorei, e em 2026 vem Alabaster Dawn (dos mesmos criadores de CrossCode) que eu também estou no hype, e aqui são só dois de dezenas de jogos bons que já lançaram ou vão lançar num futuro próximo. E mesmo entre tantos jogos anunciados e recém lançados, alguns se destacam. E Demonschool faz isso desde o seu anúncio – um Persona-like, mais leve um pouco, com batalhas táticas por turnos e independente? Sim, por favor! Embora o jogo não entregue TODO o seu potencial, o resultado final é sim, muito legal e vale muito a pena.
Gênero: RPG
Lançamento: 19/11/2025
Plataformas: PC, Linux, Mac, PS4, PS5, XBO, XSX, Switch
Tem idioma PT-BR: Não
Desenvolvido por Necrosoft Games
Publicado por Ysbryd Games
Escolinha do Professor Capeta
Dizer que Demonschool é inspirado em Persona e Shin Megami Tensei é mais do que óbvio – mais especificamente, talvez e, Persona 2. Os desenvolvedores, desde o princípio, falam disso abertamente, e basta uma olhadinha pro jogo que você percebe que é verdade. O jogo começa com um grupo de estudantes chegando em uma universidade PECULIAR, pra dizer o mínimo. E aí logo você tá investigando o campus atrás de uma fita VHS amaldiçoada e tentando evitar o apocalipse. Uma diferença, porém, entre Demonschool e Persona/SMT é que, nesse caso, é tudo bem escancarado e bem humorado. Em Persona 3, por exemplo, as coisas demoníacas acontecem na “Hora Sombria” – uma 25ª hora do dia que a maioria das pessoas nem sabe que existe. Em Demonschool é capeta pra todo lado, sem enrolação e sem medo de ser feliz.

A história do jogo é dividida em semanas, e cada semana, o professor demanda para Faye e sua patota um novo caso a ser investigado. Durante cinco dias, Faye e seu “clube de gente com poderes paranormais de matar demônios” explora a faculdade, conhece novos personagens e descobre o que está por trás do problema da semana. Não é como em Persona – não existe um prazo determinado que você precisa cumprir, o calendário é apenas parte da narrativa mesmo, e os avanços da história acontecem em momentos determinados. É uma estrutura bem episódica que funciona super bem, especialmente pra quem for jogar no Steam Deck e no Switch em pequenas doses, sendo perfeito para portáteis. É aquele tipo de jogo que é sim, super legal de jogar no sofá da sala por horas a fio no seu console (no meu caso em um Playstation), mas que é feito sob medida pra jogar meia horinha no ônibus, ou antes de dormir, ou até mesmo no horário de almoço.

Essa estrutura, essa velocidade com que a história avança, e esse bom humor escrachado, são na verdade o ponto forte e o ponto fraco do jogo ao mesmo tempo. Embora torne o jogo bem mais palatável, os personagens são, em sua maioria, um pouco rasos, infelizmente. A escrita do jogo poderia ser bem melhor, e se esconde atrás de piadas que são, sim, engraçadas, mas poderiam dar lugar, de vez em quando, a alguma cena que desenvolvesse melhor a relação de Faye com um dos membros do grupo. Ao fim da jornada, fica o sentimento de que o tempo que o jogador passa com cada personagem é muito curto. A história também anda de maneira excessivamente linear, quase em trilhos, deixando pouca abertura pra que o jogador realmente explore e encontre segredos e se surpreenda. Talvez seja algo de expectativa – especialmente quando se faz a comparação injusta com Persona, que sempre entrega personagens muito bem explorados e um universo de opções, mas é fato que a narrativa, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento dos personagens, é o ponto mais fraco de Demonschool.

Todos os problemas que tive com a história, porém são absolutamente compensados no audiovisual. O jogo tem um clima de jogo de Playstation 1 em tudo, principalmente na estética, com uma visão isométrica e um visual meio low poly com alto contraste, e uma interface que faz justiça à inspiração que o jogo tem nos RPGs da Atlus. E a trilha sonora? Nossa, a música é a melhor parte desse jogo, sem dúvidas. É como se você pegasse uma trilha sonora de filme de terror slasher pastelão e colocasse um “filtro” de música de RPG de Playstation 1 por cima. As músicas de batalha são maravilhosas, tensas, assustadoras e empolgantes, e os temas de exploração e bate-papo com os personagens são todos excepcionais. “Mansion”, especificamente, acho que é a minha favorita, e posso afirmar com tranquilidade: não tem uma música ruim nesse jogo.
Chutando demônios na cara
E o combate? Começo dizendo que eu esperava uma coisa e obtive outra. Isso é minha própria culpa – eu presumi que era um jogo de combate tático mais tradicional, ainda mais com a inspiração em Persona 2, mas o que Demonschool entrega é algo diferente. E é um diferente bom, na grande maioria dos casos, embora peque, na minha opinião, com um pouco de falta de profundidade e variabilidade.

Os combates funcionam em duas fases, que podemos chamar de “planejamento” e “execução”. Durante a fase de planejamento, o jogador faz todas as ações que quiser com todos os seus quatro personagens, usando uma barrinha de pontos de ação compartilhada pelo grupo. Durante esse tempo, o jogo já mostra todo o dano que cada inimigo vai tomar, além de também mostrar o dano recebido por cada personagem do grupo. Os ataques não tem números ocultos ou aleatórios – não existe sistema de crítico, chance de acerto ou coisas assim. Até os movimentos e ataques que os inimigos farão em seguida já são conhecidos, e o jogador precisa planejar suas ações com base em todas essas informações. Pense em xadrez só que, ao invés de cavalos e torres, você tem universitários chutando a boca de demônios e mandando eles de volta pro inferno.

Depois de fazer toda a fase de “planejamento” vem a fase de execução, e aí você vê tudo acontecendo de maneira gloriosa. É sangue pra todo lado, capetas explodindo, personagens dando socos, pontapés e raios de energia pra todo canto. São poucos segundos de um absoluto orgasmo audiovisual em que você vê tudo que rolou acontecendo rapidamente. O objetivo de cada combate, no fim das contas, nem é eliminar todos os alvos inimigos, mas sim matar um número específico de demônios em um número específico de turnos, pra então poder destravar o portal para o inferno e mandar todo mundo de volta pra lá, encerrando a batalha. Isso quer dizer que o jogador precisa maximizar o benefício de cada soquinho, cada pontinho de ação, cada pontinho de vida, cada barrinha de especial. Falta também um pouco de personalidade única para cada membro do grupo nas batalhas – muitos deles acabam “ocupando o mesmo lugar” na sua estratégia, e as possibilidades do que cada personagem pode fazer são um pouco limitadas – você não tem acesso a muitas diferentes habilidades ou magias ou coisas do tipo. Na prática, é menos uma batalha e mais um quebra-cabeças tático – e isso pode ser muito legal, desde que você saiba onde está se metendo.

Os combates contra chefões são outra história completamente diferente. Os chefões, que são sempre demônios gigantes que ocupam vários espaços do “tabuleiro” de batalha, fazem de fato ataques contra seu grupo, evocam demônios menores, e tem uma barra de vida que precisa ser diminuída pra que eles sejam derrotados. É aqui, também, que o design de monstros do jogo, que já é muito bom no geral, chega em seu ápice, e você vai enfrentar trecos horrorosos que misturam tecnologia analógica com coisas demoníacas, lembrando bastante o visual daquele reboot de Devil May Cry com o Dante emo (que, aliás é sim um ótimo jogo, ao contrário do que dizem por aí). É comum de qualquer RPG que os chefões sejam o ponto alto do jogo, mas aqui isso é mais verdade do que nunca – eles são a melhor parte do combate de Demonschool, sem sombra de dúvidas.

Veredito: Dê Uma Chance
Eu torci muito para esse jogo, e queria muito, mas muito mesmo, sair falando aos quatro ventos que este aqui é o novo clássico dos RPGs indies… Mas na realidade, o que temos aqui é um RPG muito criativo, excepcional em algumas coisas e profundamente falho em outras. Demonschool é no fim das contas, um jogo muito legal, mas com problemas. Se você quer uma história profunda com personagens bem desenvolvidos e relações bem trabalhadas, não encontrará em Demonschool, infelizmente não acho que eu possa recomendar esse jogo. Se você gosta de batalhas complexas e imprevisíveis, também acho que talvez Demonschool não seja pra você. Mas se você quer um “Persona-like” mais suave, leve e engraçado, com batalhas que na verdade são puzzles, e com um audiovisual absolutamente impecável, aí sim: faça sua matrícula e prepare-se pra mandar um caminhão de demônios de volta pro colo do capeta.
Jogue se você curte: Tactical Breach Wizards, Persona 2, Xadrez, chutar a boca do Belzebu, estética de Playstation 1